Um dos
desafios que o aluno encontra ao longo de sua trajetória acadêmica, e
posteriormente a ela, é a de entender e explicar o que de fato ele faz.
Inicialmente isso ocorre em casa, quando ele se vira para a família e diz que
quer ser Designer Gráfico, e recebe de volta perguntas ainda mais instigantes do que tal afirmativa: o que esse sujeito vende? Dá para ganhar dinheiro fazendo isso? Tempos depois se vê mergulhado em dúvidas, equívocos e percepções
reducionistas por parte dele mesmo e daqueles que o enxergam (e o confundem!) apenas
como o profissional das "soluções criativas", o mágico que tira
vários coelhos do photoshop.
Hoje, com a palavra "design" sendo aplicada em tudo quanto é lugar, acredito que é até bem mais fácil de se manter um diálogo acerca da profissão. Pelo menos quanto ao que ela, de fato, não é! Mas a dificuldade ainda existe e persiste, o desafio é grande, principalmente quando o assunto adentra o campo das definições e nomenclaturas, tanto na esfera do senso comum quanto entre os próprios profissionais. Aí a coisa complica. Se antes lutávamos para equacionar o problema em âmbito familiar, nos dias atuais vivenciamos um processo de banalização contínua quanto ao emprego de termos e descrições próprias, além das famigeradas autoproclamações.
Hoje, com a palavra "design" sendo aplicada em tudo quanto é lugar, acredito que é até bem mais fácil de se manter um diálogo acerca da profissão. Pelo menos quanto ao que ela, de fato, não é! Mas a dificuldade ainda existe e persiste, o desafio é grande, principalmente quando o assunto adentra o campo das definições e nomenclaturas, tanto na esfera do senso comum quanto entre os próprios profissionais. Aí a coisa complica. Se antes lutávamos para equacionar o problema em âmbito familiar, nos dias atuais vivenciamos um processo de banalização contínua quanto ao emprego de termos e descrições próprias, além das famigeradas autoproclamações.
Bruno Porto, um reconhecido designer gráfico, conta uma pequena história no recém-publicado livro "Logotipo versus logomarca: a luta do século", da editora 2ab, que ilustra bem o nosso enredo. Um belo dia, o telefone toca e do outro lado da linha uma voz aparentemente de uma senhora faz a seguinte pergunta:
–
Quanto custa fazer um folder?
–
Um folder pra quê? – pergunta ele.
– Um seminário de psicologia. O texto já está
pronto e não tem fotos.
Já com um certo
grau de desconfiança, ele ouve a senhora enfatizar as dimensões da peça: um
folder de noventa centímetros por um metro. Ela na verdade queria um banner.
Porto (2012, p. 14) entende que:
Porto (2012, p. 14) entende que:
"Se uma classe profissional não define e utiliza
de forma correta seu vocabulário, quem irá fazer isso por ela? Quando um chama
de comunicação visual, outro de criação gráfica, outro de design visual, outro de desenho gráfico, a desvantagem é que
isso acaba por confundir (...). Confunde a todos e, até onde entendo, confusão
não é uma coisa boa. Especialmente para um mercado que ainda está tentando se
entender".
Uma
profissão que se coloca a serviço dos diferentes meios de comunicação, que busca
reduzir complexidades ao projetar interfaces para uso cotidiano, deve se
preocupar e muito com a leitura que os interlocutores fazem – como a senhora do
folder – e assumir um discurso que possibilite o entendimento mútuo e
multiplicador.
Para cada área do conhecimento e campo de atuação existe uma instância
que atua a favor da validação de ações e termos a serem empregados, que atua
como referencial e a credencia como prática profissional. No caso do design –
uma profissão nova se compararmos a arquitetura e a engenharia, por exemplo –, que
se projetou em meio a Revolução Industrial, promoveu uma incursão no país entre
as décadas de 1950 e 1960 no que se refere ao seu ensino e encontra-se em fase
de regulamentação, um dos grandes referenciais ou pelo menos busca se
posicionar como tal, é a ADG (Associação dos Designers Gráficos), fundada em
1989.
Assim
como o livro citado anteriormente, esta associação publicou neste ano um
glossário de verbetes atualizado, o ABC da ADG, como parte efetiva do seu
engajamento no que se refere a disseminação de um vocabulário comum aos
profissionais e interlocutores, capaz de contribuir para a comunicação e uma
consequente valorização do conteúdo teórico-discursivo do designer gráfico.
Para que tal
esforço seja legitimado e consolidado na vivência cotidiana, cabe as
universidades e instituições de ensino se posicionarem quanto a esta urgência,
tendo no currículo e principalmente na figura do docente, as contribuições
necessárias para a formação de argumentos e do discurso do aluno ao longo de
sua trajetória acadêmica, assim como no campo da pesquisa, mercado e na própria
área da docência.
Além
de sua leitura técnica, o designer gráfico será reconhecido e percebido nas
diferentes esferas do cotidiano pela forma como entende e
"fala" da sua profissão, contribuindo assim para a construção da
própria imagem e da valorização da área do conhecimento da qual é parte
integrante.
Referências:
ASSOCIAÇÃO DOS DESIGNERS GRÁFICOS. ABC da ADG: Glossário de termos e verbetes utilizados em design gráfico. São Paulo: Ed. Blucher, 2012.
PORTO, Bruno. Nomenclatura: para que simplificar se podemos confundir? In: ______. Logotipo versus logomarca:
a luta do século. Teresópolis, RJ: Ed. 2AB, 2012. p. 10 a 15.
*Texto originalmente escrito e apresentado no curso de 'Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior' (Estácio-RJ) para a disciplina 'Argumentação e Discurso', ministrada pelo Professor Alexandre Brite.
*Texto originalmente escrito e apresentado no curso de 'Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior' (Estácio-RJ) para a disciplina 'Argumentação e Discurso', ministrada pelo Professor Alexandre Brite.
Excelente texto, Wilson! Penso que essa reflexão pode ser feita por todas as áreas de conhecimento...
ResponderExcluirParabéns!
Abraços!